sábado, 11 de abril de 2009

V Congresso Internacional da Sociedade Hegel Brasileira

Apresentação


Hegel é um dos pensadores mais influentes, desde sua própria época até nossos dias. Suas contribuições à ética, filosofia política, estética, filosofia da história e metafísica tinham e continuam tendo uma repercussão enorme não apenas nos discursos dos próprios filósofos, mas também nas áreas do direito, da sociologia, da arte, da historia e no discurso político em geral. Porém, há uma parte do sistema filosófico hegeliano que, desde o sec. 19, foi sempre negligenciado: a Filosofia da Natureza. Isso se deu porque o desenvolvimento das ciências naturais refutou claramente várias das teses específicas de Hegel sobre a natureza. Nos últimos anos, porém, vários cientistas mostraram que as idéias fundamentais subjacentes a estas têm uma atualidade quase surpreendente. Pesquisadores, como D. Wandschneider e V. Hösle argumentam que, com respeito a aspectos fundamentais da Teoria da Relatividade, bem como da Teoria Quântica, Hegel estava certo, sem querer alegar que ele próprio tenha previsto estes resultados num sentido mais estrito. Vários biólogos defendem que o conceito da vida seja irredutível à conceitos mecanicistas da Natureza e querem compreendê-la como estrutura da auto-referência; e físicos, junto com outros cientistas naturais, discutem temáticas como emergentismo e irredutibilidade, discussões essas que podem ser relacionadas aos conceitos de Hegel e à sua compreensão dialética da realidade. Por fim, podemos mencionar a idéia da evolução cósmica que a ciência natural revalidou no século 20. A explicação da seqüência causal do Big Bang até a formação do espírito ainda mostra grandes lacunas no início e no final. Mas o programa hegeliano de um desenvolvimento único dos fenômenos naturais até o nascimento da mente tornou-se opinião comum, mesmo que (ainda) não em sua forma dialético-conceitual.

A física moderna mostrou que, no mundo físico, tudo está interconectado, i.e., tudo está em ação recíproca com tudo – mesmo que, evidentemente, os efeitos dessa interação possam ser mínimos. Hegel amplia e transcende essa totalidade do mundo físico defendendo que o nexo global estende-se para além da naturaza física até o espírito. Toda realidade, natural e espiritual, na visão de Hegel, forma um todo de interdependências e interações, uma estrutura dinámica e viva. Mas isso significa que a própria natureza não pode ser compreendida adequadamente por leis puramente mecânicas, mas precisa ser entendida dentro do Todo natural-espíritual, orgânico e vivo. As caraterísticas fundamentais da organização interna deste Todo são a dialética e a estrutura da auto-relação, i.e., o desenvolvimento dinâmico por conflitos e antagonismos e a estrutura da alça, patente no fenômeno da vida e da consciência. É interessante que tanto na física quanto na biologia das últimas décadas, cientistas começaram a perceber a necessidade de transcender a compreensão meramente mecanicista da natureza e, em grande parte inconscientemente, aproximaram-se de algumas das intuições básicas de Hegel. Chegou, portanto, a hora de re-atualizar a parte esquecida do sistema de Hegel: a Filosofia da Natureza.

A necessidade de focalizar novamente o interesse filosófico na Natureza torna-se mais evidente ainda se olhamos para os grandes desafios ecológicos que a humanidade enfrenta hoje. Naturalmente, a discussão política atual está voltada principalmente para os problemas concretos, tão grandes e tão urgentes. Mas ao longo prazo será necessário refletir e esclarecer a relação geral, básica do ser humano para com a natureza. Para isso, a visão hegeliana da natureza como “noiva do espírito” pode ser de grande valor.

Um comentário:

  1. O texto de apresentação do evento está muito interessante, mas eu tenho alguma dificuldade em pensar como seria uma "auto-referência" (da Idéia) na Fil. da Natureza. Eu preferiria usar os termos "autopoiese" e "auto-organização" (tema de minha apresentação). Alguém poderia me explicar como a "auto-referência" acontece na Natureza? Será que esta concepção se baseia na analogia do "Self" imunológico proposta por A. Tauber? E/ou na proposta formalizante de F. Varela? Na Lógica, Matemática, Computação, Linguística ou Teologia tal dificuldade não se apresentaria.
    Abraços,
    Alfredo Pereira Jr.

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